
A habitação implanta-se num lote quadrangular, plano e orientado no sentido Norte-Sul, em proximidade ao pinhal e à praia. A volumetria, de um só piso, integra-se num conjunto edificado de habitações com dimensão semelhante, de construções isoladas e baixa densidade. O acesso principal é localizado a Norte do lote e desenvolve-se numa planta em “L” que resulta da clara separação entre a ala social e a ala privada. A forma da implantação favorece a ventilação natural cruzada e a boa exposição solar, o que elimina a necessidade de qualquer sistema de climatização ou de ventilação mecânica. Simultaneamente, a forma preserva o espaço exterior privativo da influência dos ventos dominantes de Norte e Poente.
Para este projeto, o atelier explorou o potencial do sistema pré-fabricado e modular tridimensional baseado em peças de betão armado em forma de “U”, que vão sendo agrupadas de acordo com as necessidades do programa habitacional.
No sentido de reduzir o tempo de construção, os trabalhos de preparação do terreno, terraplanagem, escavações e fundações decorreram a par da produção dos restantes componentes em fábrica. Adicionalmente, os módulos foram transportados para a obra já com uma parte das instalações elétricas e hidráulicas preparadas. Cada módulo sai da fábrica contendo o betão armado estrutural e uma camada exterior de compósito cimentício com casca de arroz. Este material é um subproduto dos resíduos agro-industriais, habitualmente descartado e queimado, fornecido localmente, a partir das plantações de arroz do baixo Mondego, que aqui se transforma numa matéria-prima de base biológica.
Esta camada de casca de arroz, com 23 cm de espessura, atua assim como revestimento exterior e como isolamento, correspondendo a uma resistência térmica de 1.877 m²K/W, eliminando a necessidade de inclusão de EPS ou XPS. Este projeto funciona como um protótipo que explora a potencialidade da combinação de métodos construtivos industrializados com a incorporação de materiais de base biológica.
A partir do exterior, é possível ter uma clara leitura tectónica do edifício – as juntas são assumidas, cada um dos módulos e a forma como estes são dispostos e sustentados torna-se evidente.
Todas as peças estruturais deste edifício foram produzidas em fábrica, sob condições altamente controladas e monitorizadas, sendo posteriormente montadas in situ em poucos dias. Para além da estrutura, estas peças configuram também o essencial da Arquitetura do edifício – elas definem as fachadas, o piso e a compartimentação interior. Este processo permitiu não só uma clara aceleração do processo de construção, como um maior controlo do mesmo, eliminando betonagens em obra, reduzindo o desperdício e o impacto da obra na envolvente próxima – menos ruído e menos resíduos. Em suma, processo e resultado assumiram a mesma importância neste projeto.
Video ©Building Pictures; Fotografias 01 ©Joaquin Mora; 02 ©SUMMARY; 03 – 07 ©Alexander Bogorodskiy