“Futuristic City”

Esta proposta aceita três factos:

A) O Urban Sprawl* (expansão urbana) está a acontecer em crescimento contínuo e numa larga escala, desde há 25 anos. A expansão urbana não é um problema em si, mas acarreta consigo diversos desafios que urgem resolução/controlo: tudo se torna mais distante, o que significa que as pessoas despendem mais tempo nas migrações diárias; isso implica também uma maior dependência no veículo individual e mais poluição que será assim produzida. Todas estas questões podem ser facilmente resolvidas com esquemas mais eficientes de transportes públicos. No entanto, se as cidades crescerem de maneira desorganizada, não haverá regra para implementar este esquema. O nosso objetivo é, portanto, organizar a expansão urbana, em vez de tentar contrariá-la ou lutar contra ela.

B) Não existe forma de prever com exatidão a evolução das cidades em termos de implantação e densidade populacional, nem de bloqueá-las num estado de “pequena-média cidade”. Neste contexto de imprevisibilidade, desenhar uma cidade do futuro é inútil. Propomos assim desenhar um sistema de cidade flexível, para um futuro que não conhecemos.

C) No mundo contemporâneo (e futuro), as cidades não têm limites. É por essa razão que o nosso sistema se foca numa área de 3,14 km² (como área de “amostra”) mas é extensível à região de Yilong – é um sistema de intercidades.

De forma a organizar a expansão, assumimos a linha de água como guia do desenvolvimento urbano. Se assim o fizermos, conduzimos a extensão urbana ao longo de uma organização linear (em vez de uma extensão aleatória em “mancha”). Esta organização linear determina um caminho para o Sistema principal de transporte público intercidades, sendo complementado por linhas secundárias, perpendiculares. Em simultâneo, considerando que a altimetria do terreno é relativamente constante nas áreas junto ao curso de água, esta linha permite incorporar percursos/caminhos planos pedonais e cicláveis, conectando diferentes áreas urbanas.


Não se trata de uma ideia futurista. Pelo contrário, neste ponto assumimos que se trata de um retorno à maneira ancestral de criar assentamentos urbanos – perto da água, onde a topografia é mais suave, o solo arável é mais rico e a irrigação mais fácil. Mesmo sendo ancestral, esta estratégia pode ser a chave, não apenas para o esquema de transporte, mas também para o urgente e contemporâneo problema de alimentar as cidades. Assumindo a ruptura dos antigos limites entre cidades e campo, natureza e edificado, a produção agrícola para alimentar as áreas urbanas não tem de ser localizada no seu exterior. Pode dar-se lugar a uma mistura entre ambas, reduzindo o tempo, o custo e a poluição associados com o transporte entre os campos de cultivo e os destinos dos seus produtos finais. Ao mesmo tempo, estas áreas agrícolas podem servir também como espaços verdes de uso público (enquanto parques agrícolas públicos), dentro das cidades.

Com esta estratégia, propomos um sistema que funciona bem em três cenários futuros distintos – ocupação de baixa, média e alta densidade – compostos por:

– uma linha de extensão urbana ao longo do rio Liuyang, conectando a Comunidade Lutun com a cidade de Wantunzhen;
– um sistema público de transporte (caminho-de-ferro) correspondendo a essa mesma linha;
– uma grelha de 100 m² por habitante (muda em cada cenário) de espaços agrícolas, a cada 3km nesta linha de extensão urbana; estes espaços funcionarão como espaços públicos, bem como parques verdes recreativos e estações ferroviárias.

Este sistema é flexível e adaptativo ao longo do tempo e consoante a quantidade de pessoas que estão a usá-lo. O esquema linear de transporte e os seus complementos perpendiculares podem facilmente ser adaptados às diferentes densidades de população que possamos ter nessas áreas: o esquema de transporte pode ser transformado de um parque verde pedonal para um vaivém autónomo(autocarro), sem condutor; o esqueleto do sistema construtivo permite-nos quase independentemente atualizar/elevar as “torres agrícolas”. As grelhas agrícolas podem ser estendidas verticalmente, de acordo com o crescimento populacional, garantido auto-suficiência do espaço urbano quanto aos respetivos produtos agrícolas e sobrepondo a superfície mínima recomendada por habitante de espaços públicos verdes.

* significando o crescimento da implantação das cidades, incluindo áreas de extensão de baixa densidade populacional.

futuristic city

INFORMAÇÃO DO PROJETO

CONCURSO: Yilong Futuristic City International Design Competition
ANO: 2017
TIPO: planeamento urbano
LOCALIZAÇÃO: Yilong, China
LÍDER DE PROJETO: Samuel Gonçalves
EQUIPA DE PROJETO: Inês Vieira Rodrigues, Alban Wagener